Publicação digital
RAÍZES convida você a ler a matéria sobre o "A Construção da Escola Florestan Fernandes é uma Escola", escrito pela RAÍZES.
Este é o segundo artigo da série sobre construção ecológica que está sendo desenvolvida pela RAÍZES.
Analisamos o processo de construção da Escola Nacional Florestan Fernandes em Guararema, que foi inaugurada em 2005 após um processo de construção de cinco anos.
Mais de 1.000 brigadistas participaram da construção da Escola, produzindo 1,7 milhão de tijolos e montando os prédios em uma área de 9.000 metros quadrados, desmentindo preconceitos que a construção ecológica carrega.
Os novos prédios foram construídos com técnicas mistas, sendo as mais ecológicas os tijolos de solo-cimento e a taipa de pilão. Saiba mais sobre esse processo em:
Previamente em: http://unimep.edu.br/noticias/capacitacao-ministrada-por-docente-e-alunos-une-conhecimento-a-oportunidades-para-a-construcao-de-moradia
Produção de tijolo solocimento
Oferecer aos alunos de arquitetura e urbanismo da Unimep conhecimento e experiência para a trajetória profissional e, ao mesmo tempo, apresentar possibilidades para a construção de moradia e geração de renda por meio da venda de tijolos ecológicos. Esses estão são alguns dos resultados da capacitação gratuita sobre tijolo ecológico oferecida a 45 trabalhadores residentes em Campinas, e ministrada pelo prof. Eduardo Salmar, docente de arquitetura e urbanismo da Unimep, com a participação de alunos da graduação.
A inciativa está ligada à parceria da Unimep, por meio do curso de arquitetura e urbanismo, com a Cátedra Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) em Arquitetura de Terra. Nela, os universitários participam como monitores nas atividades realizadas nos laboratórios e espaços distintos do campus Santa Barbara d´Oeste.
A capacitação compõe o programa de impacto social Abatauá, criado em parceria com comunidades de Campinas vinculadas à Associação Paulista de Apoio aos Trabalhadores Desempregados (Apoio). O objetivo é o de gerar renda e emprego às famílias por meio do desenvolvimento de uma fábrica de tijolos ecológicos (Ecojolo). O projeto Abatauá é realizado em conjunto com a Enactus, organização internacional sem fins lucrativos.
Com a Enactus, estudantes de instituições de ensino superior podem formar equipes para idealizar, desenvolver e implementar projetos sociais autossustentáveis para melhorar a qualidade e o padrão de vida de comunidades. O Abatauá é um dos projetos desenvolvidos pelo time de alunos Enactus Facamp (Faculdades de Campinas), com a coordenação de docentes e líderes.
De acordo com Salmar, as ações ligadas ao projeto Abatauá tiveram início em agosto de 2017. Ele destaca, no entanto, que, desde 2003, por meio de parceria com a Unesco, também são promovidas na universidade a capacitação em bloco de terra comprimida (BTC).
CARTILHA – Além do programa de estudo, o programa Abatauá inclui a produção da cartilha Tijolo Ecológico – Da Teoria à Prática, a ser lançada em outubro. A publicação, que também contou com o envolvimento de alunos da graduação e técnicos de laboratório do campus Santa Bárbara d´Oeste da Unimep na elaboração, será distribuída gratuitamente aos moradores de distintas ocupações de Campinas.
O objetivo da publicação é reunir o material técnico relativo à produção, manuseio e aplicação do bloco de terra comprimida (BTC) em obras, de maneira prática e objetiva. Além de reforçar a utilização do tijolo ecológico como produto inteligente no mercado de construção civil, a cartilha também poderá ser um guia prático e técnico aos colaboradores para o cotidiano da fábrica e da obra.
CONVÊNIO – A aproximação da Unimep com a Cátedra Unesco foi formalizada a partir de assinatura do convênio ocorrida em 1999 na cidade de Paris, sede da Chaire Unesco Educação, conta Salmar. A parceria é válida até 2020 e, após, poderá ser renovada.
Com o convênio, detalha o professor, os estudantes da Unimep podem ter acesso a publicações impressas e em outras mídias, tais como o boletim trimestral do Proterra (www.redproterra.org); além de vivência e socialização com estudantes estrangeiros que participam de estágios no Laboratório de Sistemas Construtivos em Terra Crua; desenvolvimento de atividades de construção no canteiro experimental do curso de arquitetura e urbanismo e desenvolvimento de projetos de iniciação científica.
Além dessas atividades, Salmar aponta outras ações desenvolvidas em parceria com a Unesco: a produção da cartilha Produção de Tijolos de Solo Cimento, direcionada aos assentados da cidade de Sumaré e disponível no portal www.unimep.br/editora, na área de publicações gratuitas; e as atividades do grupo Unieco (Universidades Ecológicas), que consiste em equipe de trabalho com o objetivo de apresentar propostas com valores ecológicos e modelos de gestão para implantação em universidades.
“Essa atividade tem o objetivo de proporcionar a redução dos custos de manutenção do campus de Santa Bárbara d'Oeste. Com o projeto de sustentabilidade do campus, propusemos soluções para reuso de água pluvial e geração de energia elétrica através de placas fotovoltaicas. O projeto envolveu cinco alunos de arquitetura e urbanismo e já foi encaminhado ao reitor da Unimep”, afirma Salmar.
Texto: Assessoria de Comunicação e Imprensa Unimep
Como construir com terra
Nossa escola será de terra Estamos propondo o uso da terra como matéria prima básica para a construção da Escola Nacional Florestan Fernandes. Pretendemos transformar a construção da escola numa escola de construção, capacitando profissionais, para que esta técnica seja multiplicada na construção de moradias nos novos assentamentos. Deste modo, através do uso do material DISPONÍVEL - a terra - e da farta mão de obra dos companheiros e companheiras, poderemos alcançar uma melhor qualidade nas nossas edificações. Um conjunto de justificativas nos conduziram a tomar esta decisão:
1 - Tecnológica - Gera emprego, conhecimento e autonomia.
2 - Econômica - Temos fartura de mão de obra e de material.
3 - Ambiental - De baixíssimo consumo de energia não renovável, não gera entulho, o material é reciclável e resulta numa moradia mais saudável para o ser do que aqueles que se utilizam de materiais sintéticos que não respiram, etc.
4 - Conforto - Esta técnica proporciona um excelente conforto térmico e acústico.
5 - Cultural - Resgata uma tradição quase esquecida.
Este conjunto de motivos sintetizam uma decisão: construir com terra é, acima de tudo, uma decisão política. A construção com terra, em nosso pais, é parte de nossa cultura e história. Tradicionalmente o saber desta técnica passava através das gerações, garantindo assim a autonomia para edificar. Nossos monumentos históricos foram construídos com terra. No entanto, a partir da década de 60, o governo brasileiro promoveu uma ampla campanha nacional associando esta tradição a doença de Chagas(provocada pelo 'barbeiro') criando assim um preconceito contra a utilização da terra na construção. POPULARIZOU-SE, INTENCIONALMENTE, a associação da proliferação do "barbeiro" com as casas CONSTRUÍDAS com terra. Esta manipulação tinha o objetivo servir à indústria do cimento. Foi quando se iniciava a construção maciça de moradias populares financiadas pelo BNH - um banco que por sua própria natureza visava alcançar lucro. No entanto, sabemos que o 'barbeiro' vive em cavidades e a este inseto pouco importa se esta cavidade é de terra, de madeira ou de cimento. O que ele busca são condições ideais de temperatura e luminosidade. Por isso, a doença de Chagas continua existindo aonde há miséria e moradias de baixa qualidade. O uso da terra em construção é tão antigo quanto a CULTURA humana, especialmente onde não existiam outros materiais disponíveis tais como pedra ou madeira. Em todo o planeta, o uso deste material foi empregado e em alguns lugares com muito sucesso e sofisticação. Na China, por exemplo, até os dias presentes, a terra é amplamente utilizada como material básico de construção. Existem em, Tongding, EDIFÍCIOS de muitos andares, de 500 anos de idade.
As TECNOLOGIAS que empregam a terra como matéria prima básica são: a taipa, os tijolos de adobe (secos aos sol) e Blocos de Terra Comprimida (BTC), dentre outras. Ainda pode-se considerar o uso de solo cimento, que é uma técnica que inclui uma pequena porcentagem de cimento na mistura, da ordem de 6% do volume total. Esta combinação pode ser aplicada em taipa (reduzindo assim a espessura das paredes) e nos BTC. Sendo esta ultima combinação considerada a mais ECONÔMICA ao longo do ciclo de vida de uma edificação. Este material consome 25% da energia necessária para produzir um tijolo de argila comum e 35% daquela necessária para produzir um bloco de concreto. Quando de uma demolição, o MATERIAL pode ser reciclado e reutilizado como material de construção. Sua resistência a cargas é comparável e mesmo superior aos blocos e tijolos de uso comum. Existe ampla bibliografia sobre este assunto. Vivemos, presentemente, uma revalorização da importância de utilizar essa técnica em NOSSAS CONSTRUÇÕES.
Os arquitetos preocupados com o meio ambiente estão desenvolvendo aprimoramento tecnológico, aproveitando mecanizações e modernizando o método CONSTRUTIVO, de modo a TORNÁ-LO adequado a nossos tempos. São muitos os centros de pesquisa e estudo. Para mencionar alguns exemplos, de Estados Unidos, The Earth Architecture Center, ligado à Universidade no Novo México em Albuquerque; no oriente médio o legado do Arquiteto Hassan Fathy e, principalmente, na França o Instituto Craterre associado à Escola de Arquiteturade Grenoble. Em São Paulo a Faculdade de Arquitetura da UNIMEP em Santa Bárbara D'Oeste onde existe um laboratório tecnológico, assim como também na USP de São Carlos, onde são realizados trabalhos e pesquisas. Assim, é errônea a IDEIA de que a construção de terra significa uma simples volta ao passado e, mais especificamente, ao atraso.